quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Almeida Garrett - uma curta biografia

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854) foi o iniciador do Romantismo e refundador do teatro português, criador do lirismo moderno e da prosa moderna, e ainda jornalista, político, legislador, em suma, um exemplo de aliança indissociável entre o homem político e o escritor, o cidadão e o poeta.

Tendo nascido no Porto, no seio de uma família burguesa, que se refugia em 1809 na ilha Terceira, a fim de escapar à segunda invasão francesa. Nos Açores, recebe uma educação clássica e iluminista (Voltaire e Rousseau, que lhe ensinam o valor da Liberdade), orientada pelo tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor.

Em 1817, vai estudar Leis para Coimbra, foco de fermentação das ideias liberais. Em 1820, finalista em Coimbra, recebe com entusiasmo e optimismo a notícia da revolução liberal. Em 1821, publica em Coimbra O Retrato de Vénus, ainda marcada por um estilo arcádico. Arcádicos são igualmente os poemas que escreve durante este período e que serão insertos em 1829 na Lírica de João Mínimo, um dos livros que publicou.

Em 1822, é nomeado funcionário do Ministério do Reino, casa com Luísa Midosi e funda o jornal para senhoras O Toucador. Em 1823, com a reacção miguelista da Vilafrancada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra e depois em França. Contacta então com a literatura romântica (Byron, Lamartine, Vitor Hugo, Schlegel, Walter Scott, Madame de Stael), redescobre Shakespeare e, influenciado pelas recolhas de cancioneiros populares, começa a preparar o Romanceiro.

Em 1825 e 1826, publica em Paris os poemas Camões e Dona Branca, primeiras obras portuguesas de cunho romântico, fruto da metamorfose estética em si operada pelas novas leituras. Em 1826, publica também o Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa, como introdução à antologia de poesia portuguesa Parnaso Lusitano.

Em 1826, durante um período de tréguas, regressa a Portugal e mostra-se confiante na Carta Constitucional acordada entre D. Pedro e D. Miguel. Dedica-se ao jornalismo político, nos jornais O Português e O Cronista. Em 1828, depois da retoma do poder absoluto por parte de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra. Em 1830 publica o tratado político Portugal na Balança da Europa, onde analisa a história da crise portuguesa e exorta à unidade e à moderação. Em 1832, parte para a ilha Terceira e participa no desembarque das tropas liberais no Mindelo. Escreve, durante o cerco do Porto, o romance histórico O Arco de Sant’Ana e colabora com Mouzinho da Silveira nas reformas administrativas.

Em 1834, é nomeado Cônsul-Geral em Bruxelas, numa espécie de terceiro exílio motivado pelo cada vez maior desencanto em relação à política portuguesa (a divisão dos liberais, a corrida aos cargos públicos) e nessa cidade contacta com a língua e literatura alemãs (Herder, Schiller, Goethe).

Em 1836, regressa a Lisboa, separa-se de Luísa Midosi e funda o jornal O Português Constitucional. No mesmo ano, é incumbido pelo governo setembrista de Passos Manuel da organização do Teatro Nacional. Nesse âmbito, desenvolverá uma acção notável, dirigindo a Inspecção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática, intervindo no projecto do futuro Teatro Nacional de D. Maria II e escrevendo ao longo dos anos seguintes todo um repertório dramático nacional: Um Auto de Gil Vicente, Dona Filipa de Vilhena, O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa. É por esta altura que inicia um romance com Adelaide Pastor, que morrerá em 1841, deixando-lhe uma filha (episódio que inspirará Frei Luís de Sousa).

Em 1838, torna-se Deputado da Assembleia Constituinte e membro da comissão de reforma do Código Administrativo. Em 1846, sai em volume o «inclassificável» livro das Viagens na Minha Terra, publicado um ano antes em folhetim na Revista Universal Lisbonense. Em 1851, depois de um período de distanciamento face à vida política, regressa com a Regeneração, movimento que prometia conciliação e progresso.

Nesse ano, funda o jornal A Regeneração, aceita o título de Visconde e reassume o seu papel de deputado, colaborando na proposta de revisão da Carta. Em 1852, torna-se, por pouco tempo, Ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1853, publica o livro de poesias Folhas Caídas, recebido com algum escândalo: o poeta era, na época, uma figura pública respeitável (deputado, ministro, visconde), que se atrevia a cantar o amor desafiando todas as convenções, e muito souberam ver na obra ecos da paixão do autor pela Viscondessa da Luz, Rosa de Montufar. Em 1854, morre em Lisboa, aos cinquenta e cinco anos.

1 comentário:

priecha disse...

Não conhecia muito sobre Almeida Garrett, mas depois de ter lido esta curta biografia, passei a ter mais conhecimento sobre a sua pessoa e a suas obras.