domingo, 4 de maio de 2008

O Parnasianismo

O parnasianismo é um movimento que acompanha o desenvolvimento da nossa poesia oitocentista, encontrando no realismo ou naturalismo narrativos uma aproximativa correspondência. O surto do parnasianismo francês é uma referência importante. Quando Victor Hugo, em 1829, passa a valorizar a dimensão propriamente artística da poesia no prefácio das Orientales, assiste-se à afirmação de uma proposta nova que conduzirá ao princípio da arte pela arte, sobretudo defendido pelos mais jovens poetas, como Théophile Gautier, Leconte de Lisle e Théodore Banville. Os três acabam por ser vistos como os mestres dos parnasianos. Em 1866 sai um volume em fascículos intitulado Le Parnasse Contemporain, que recolhe poemas de numerosos autores, como os três já citados, Catulle Mendes, Heredia, etc. Baudelaire, Verlaine e Mallarmé também se encontram entre os colaboradores. Ao primeiro volume sucedem-se mais dois (1871 e 1876). Podemos dizer que, genericamente, se prossegue nas suas páginas uma poética que tinha as suas raízes no romantismo, repudiando, no entanto, a sua predisposição para o sentimentalismo ou para um humanitarismo social, e, em contraposição, valorizando a dimensão estética do texto literário através de uma prosódia equilibrada e segura, da linguagem precisa, da rima rica, etc.

(...) Podemos referir ao Parnasianismo um conjunto de autores que não pertencem a uma única geração, mas que, geralmente, encontram na revista A Folha uma referência importante. (...) No entanto, é como uma movimentação anti-romântica que ele tende a apresentar-se, muito interessado como está em criticar não só o seu sentimentalismo, mas também a improvisação ou derrame expressivo em que tantas vezes descaía. (...) Os parnasianos propunham, com efeito, uma perfeição versificatória que ganha especial relevo através de uma prosódia exigente, marcada por ritmos e rimas bem percutidos. Trata-se de uma poesia descritiva, do olhar, com uma decorrente referência a obras de arte, a paisagens, aos objectos considerados na sua exterioridade (...). Há, assim, uma espécie de objectivismo, que acentua a recusa do subjectivismo ou sentimentalismo dos nossos românticos.

(...) Como personalidades literárias que ultrapassam o parnasianismo enquanto escola, imporia referir o caso de António Feijó e, sobretudo pela sua originalidade e capacidade renovadora da nossa poesia, o de Cesário Verde, cuja obra, na sua fase inicial, não se furtou à influência de João Penha.”

Fernando Guimarães, in Dicionário de Literatura Portuguesa, org. e dir. Álvaro Manual Machado, Lisboa, Ed. Presença, 1996

Le Parnasse, de Nicolas Poussin (séc. XVIISobre a origem da palavra Parnaso, consultar aqui.

1 comentário:

Ibraim_b disse...

Ainda bem que este movimento existiu. . . Os poemas do romantismo eram demasiado subjectivos, exactamente o oposto destes que nos dão a conhecer a realidade daquela época.