segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Para começar...

Isto podia começar com um era uma vez, com um naquele dia chovia (ou fazia sol, ou estava nevoeiro, ou o dia estava assim-assim). Também podia ser com quando nasci, com quando o/a vi pela primeira vez, são tantas as hipóteses, que se uma pessoa se pusesse para aqui a escrevê-las a todas podia ir parar às quinhentas páginas e não passar do início, ficava de fora o meio e o fim, e uma coisa sem meio nem fim não é coisa que se veja, porque normalmente as coisas começam, vão por ali fora e depois acabam.O pior é que, quando acabam, fica-se com vontade de que não tivessem acabado. Pelo menos algumas vezes, que quando as coisas são desagradáveis só queremos é que acabem depressa. Mas o que não há é maneira de voltar atrás. O tempo que é agora no momento seguinte já é um depois. E não regressa. O era uma vez que se repete vezes sem conta só acontece nas histórias. Por isso vale a pena escrevê-las, porque as coisas escritas podem repetir-se agora, e depois, e depois ainda. Tantas vezes quantas as que quisermos. Só o que dizemos é que não se repete. A conversa desaparece, mas a escrita fica. É a única que tem memória. E é também a única que pode deixar qualquer coisa de nós que dure mais do que um único instante. Bem, à excepção das fotografias ou dos filmes, mas isso são apenas imagens de nós e não o que somos.

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